Empresas de segurança têm de adotar políticas antirracistas

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É preciso evitar casos como o de candidato convidado a dar palestra obrigado a usar porta dos fundos.

A fiscalização da segurança privada no Brasil é responsabilidade da Polícia Federal. Existem no país mais de 2.400 empresas de segurança patrimonial. No primeiro trimestre de 2022, aproximadamente 55% da força de trabalho do setor (estimativa de cerca de 600 mil pessoas) era composta por seguranças que não atuavam dentro dos parâmetros legais estabelecidos pela Lei Federal n° 7.102/83 e pela Polícia Federal, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. 

Um dos autores deste artigo foi vítima de racismo, no mês passado, ao entrar no prédio da F.L Corporate, em São Paulo, onde daria uma palestra num evento de agenda de campanha, como candidato a deputado estadual. Abidan Henrique foi obrigado a usar a porta dos fundos ao entrar e sair do edifício e fazer um trajeto diferente da pessoa branca que o acompanhava, ouvindo palavras como “Aqui é o seu lugar!”. É inaceitável perceber que ainda hoje vivemos esse tipo de situação. Se um convidado de evento passa por isso, imagine como deve ser a realidade de centenas de trabalhadores negros e periféricos que circulam por ali diariamente. Poucos são os casos que ganham repercussão na mídia apesar de, felizmente, eles estarem vindo à tona com um pouco mais de frequência. Isso, porém, só vem acontecendo porque as vítimas estão mais conscientes de seus direitos, denunciando nas redes sociais e fazendo boletins de ocorrências nas delegacias.

É por causa do absurdo desses tipos de episódio que temos a obrigação de exigir ações que coíbam atitudes discriminatórias e, sobretudo, providências. É dever de todos os condôminos e, principalmente, da empresa responsável pela administração predial cobrar e verificar se a prestadora de serviço de segurança é séria. O compromisso antirracista tem de estar claro e presente nas políticas e no compliance das empresas de segurança patrimonial, residencial e comercial. 

Precisamos cobrar, todos os dias, métodos de ações e controle que garantam o respeito e a igualdade no tratamento ao público, funcionários e prestadores de serviço. Ações claras, efetivas, com treinamentos, esclarecimentos, regras de procedimentos de abordagem e, principalmente, apurações e punições para os que descumprirem esses fundamentos. 

Só assim, e com uma cobrança efetiva do poder público às empresas de segurança privada, conseguiremos evitar os casos lamentáveis e inaceitáveis de racismo que acontecem invariavelmente todo dia no país.

*Samira Bueno, socióloga e diretora executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, tem mestrado e doutorado em administração pública e governo pela FGV, Abidan Henrique, vereador do PSB em Embu das Artes (SP), é engenheiro civil formado pela Poli-USP e cofundador do KM 23, projeto que ajuda jovens de escolas públicas a ingressar na universidade

Via: https://oglobo.globo.com